"Matamos o tempo, mas o tempo nos enterra". (Machado de Assis)
Diz a Inteligência Artificial do Google que: "(...) os zumbis são frequentemente descritos como tendo hábitos noturnos, vagando e agindo de forma estranha e instintiva. As suas principais características incluem a decomposição do corpo, a ausência de consciência e uma extrema agressividade".
Portanto, pode parecer exagerada a metáfora que pretendo fazer: a de que seres humanos que utilizam demais o celular estejam realizando um processo de "zumbinização" das relações familiares e sociais. Talvez sim, talvez não.
Vou dar alguns exemplos do que vi essa semana, quando passei a prestar mais atenção ao fato, principalmente porque estou utilizando um celular que possui apenas WhtasApp, para não ficar incomunicável com a família e amigos.
Cena 1: caminho pelas proximidades de um shopping center por alguns minutos, vejo muitas pessoas mexendo no aparelho celular, algumas andando pela calçada e até mesmo atravessando a rua. Numa aproximada estatística amparada apenas no que vi, diria que quase metade das pessoas estava com o aparelhinho em mãos;
Cena 2: em uma lancheria, aguardo meu pedido. Em uma mesa próxima, chegaram seis pessoas, das quais cinco usavam o celular e mal conversavam naqueles instantes em que o tempo, para elas, passou imperceptível, menos para a sexta integrante do grupo, que não usava o equipamento e também não tinha com quem conversar;
Cena 3: um casal à mesa de um restaurante, ela comendo normalmente, ele grudado no telefone, ora vendo algo, ora ouvindo áudio com o alto-falante na altura do ouvido. Nenhum diálogo;
Cena 4: a pior!, no mesmo restaurante. Ao que parece, pai e filho almoçam juntos. Não sei qual a relação existe entre eles, se são próximos afetivamente ou não, assim como o relacionamento do casal que mencionei antes. Mesmo assim, a cena é bizarra: o jovem rapaz come com a mão direita, enquanto segura o celular com a esquerda, em posição horizontal, provavelmente assistindo a algum vídeo. Usa fones de ouvido e está completamente imerso naquele mundo virtual, como se estive em uma second life com algum óculos ultra tecnológico. Quando precisava cortar o alimento, deixava o smartphone sobre a mesa e seguia assistindo, até segurá-lo novamente.
E tenho certeza que você que está lendo sabe de outros tantos casos reais de total alienação de quem está flanando pelos mares inóspitos da internet e suas redes sociais.
Talvez não seja exagero, portanto, afirmar que o uso excessivo do aparelho que transformou nossas vidas (para o bem e/ou para o mal) está deteriorando as relações familiares e sociais tão necessárias para a vida humana como a conhecemos. As pessoas seguirão suas vidas, usando excessivamente o celular ou não, não serão zumbis, é claro, mas não posso dizer o mesmo sobre como serão suas necessárias interações sociais e familiares. O momento é de muita reflexão, buscar compreender o fenômeno, não aderir, sem o necessário pensamento crítico, a qualquer modismo hitech. É necessário reconhecer (e admitir, quando for o caso) o vício, até porque redes sociais são feitas para isso. A partir de então, pensar em como fazer (e as dicas dos especialistas são muitas) para viver mais o mundo real das relações humanas e dedicar menos tempo desta vida, que é única, aos conteúdos meramente digitais e nada orgânicos.